Todos os dias nos deparamos com mensagens, anúncios e artigos falando sobre a diferença entre Chefe e Lider, e o impacto que essa diferença causa no dia a dia da empresa. O poder da liderança humanizada é transformador.
A diferenciação entre Chefe e Lider já é uma discussão superada, mas a abordagem sobre os aspectos de uma liderança humanizada nas empresas é uma necessidade atual, e pouco explorada, porém extremamente necessária para um ambiente de trabalho prospero, engajado, sustentável e de alta performance.
Numa pesquisa feita pela revista Exame em outubro do ano passado, mostrou que 86% dos funcionários brasileiros mudariam de emprego por saúde mental e mais satisfação no trabalho. Isso mostra que os nossos funcionários não estão bem, e se não estão bem, não conseguem ter produtividade!
Sem produtividade as metas não são atingidas e é por isso que os dias de liderança severa e autoritária estão a ceder espaço a um paradigma mais empático e colaborativo.
Ou seja, as empresas necessitam ter líderes que exerçam a Liderança Humanizada!
Mas afinal, uma Liderança Humanizada funciona mesmo?
Você vai entender que para exercer a Liderança Humanizada não importa o que conseguimos ou temos, mas sim o que oferecemos e somos.
No início de 2008 eu fui expatriada para Angola, aos 23 anos de idade e sem qualquer experiência em liderar pessoas. Carregava na bagagem muitas referências de uma liderança autoritária, pois até então era o que eu tinha experimentado na minha vida profissional em um ambiente majoritariamente masculino.
Participei de um projeto pioneiro entre Brasil e Angola, cujo principal objetivo era de ajudar a reconstruir a pecuária Angolana para que no futuro próximo as pessoas conseguissem comprar proteína com um valor mais acessível. Na época toda a proteína que o país consumia era importada.
Cheguei num país destruído de todas as formas, e fui morar numa fazenda recém-aberta a 400km da capital Luanda. O país ainda não tinha boas estradas e por isso demorava mais de oito horas para chegar em um hospital com infraestrutura, mas que não tinha profissionais com treinamento adequado.
A energia da fazenda era gerada por geradores e contava com segurança armada com armas pesadas - o país ainda era muito perigoso. O meu quarto era um container adaptado e naquele ambiente hostil eu aprendi muito sobre a importância de exercer uma Liderança Humanizada.
Quando entendemos que não são sobre os números e sim sobre pessoas, a vida começa a fazer mais sentido.
Os funcionários angolanos moravam em aldeias isoladas do mundo moderno, e a maioria deles nunca haviam trabalhado para nenhuma empresa. Eu tive muitas dificuldades no início, além da pouca experiência a minha cor e o meu gênero gerava um desconforto enorme nos funcionários.
A minha cor e fisionomia faziam eles se recordarem da colonização portuguesa e o meu gênero não era respeitado pela cultura da guerra que tinha durado décadas.
Eu era a única mulher que morava na fazenda, e só consegui criar e manter uma comunicação assertiva quando todos os dias eu selava a minha égua e ficava o dia inteiro no pasto com os funcionários Angolanos e Brasileiros, mesmo não sendo a minha função como Lider.
Naquela ocasião, onde todos estavam em cima de um cavalo, eu os ouvia!
Fui entendendo das suas necessidades e da cultura que era muito diferente da minha. Eu fazia tudo o que eles faziam, sem diferenciação, porque não adianta falarmos se não sabemos fazer. O exemplo ainda fala mais do que mil palavras. Quando estamos totalmente presentes e acessíveis, inspiramos lealdade e compromisso nos colaboradores dos mais diversos níveis, criando um sentimento de pertencimento e proposito partilhado.
O pouco recurso que tínhamos fez disso a necessidade de ter uma equipe unida. Unida porque ali um tinha que cuidar do outro, um erro poderia custar a vida! E todos sabiam disso...
A cultura de guerra me ajudou muito nesse quesito. Eles me ensinaram muito sobre confiar um no outro e ser adaptável a diversas situações! Para mim, isso é a base para alcançar objetivos coletivos. Num mundo caracterizado por mudanças constantes eu me deparei em um ambiente que parecia me remeter a décadas atrás, e ter flexibilidade me permitiu enfrentar os desafios de forma eficaz, criando uma equipe resiliente.
A partir do momento que íamos descobrindo para qual atividade os funcionários tinham mais habilidades, mais investíamos em seu aprimoramento e desenvolvimento. Isso gerava uma satisfação enorme no funcionário e ele virara exemplo de superação e motivação para os outros.
A paciência foi peça chave para o desempenho da equipe que era traumatizada por causa do seu passado violento. Criar um ambiente de trabalho seguro e positivo foi essencial. As pessoas sabiam que podiam errar sem ter medo de serem advertidas de forma grosseira e aos berros. Isso fez a equipe se arriscar e inovar, querendo sempre ser melhor do que o dia anterior e alcançando o crescimento pessoal e profissional dentro da fazenda.
Receber elogios é uma legitima necessidade humana e como isso fazia diferença na equipe. Elogiar, individualmente, fazia da pessoa saber que ela estava no lugar certo e que todo o esforço estava valendo a pena.
Se prestarmos atenção em tudo o que eu descrevi acima, estamos partindo do básico, e um básico bem-feito gera um resultado surpreendente para qualquer liderança em qualquer empresa.
Os líderes que abraçam a sua equipe com uma visão humanizada cultivam a empatia, promovendo a diversidade, fomentando a positividade e adaptando-se a mudanças.
Na jornada rumo a uma liderança eficaz, não podemos nos esquecer que no final do dia, só um ser humano pode cuidar e salvar outro ser humano!
Livro: A Esmeralda de Cacuso
Amei! A Simone tem muita experiência pra compartilhar, adoro os conteúdos dela! 😍